27 de nov. de 2011

De repente

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente



Vinícius de Morais

21 de set. de 2011

Ciclos.

Já está mais alta agora. Já está melhor.
Já se tornou quente, frio, brisa e ventania.
Já se tornou tudo no momento em que se tornou nada.

Já terminou e já começou de novo.
Já veio e foi embora.
E já estava em sua hora

De recomeçar.
De esquecer.
E de lembar.



Será eterna enquanto lembrada. E eternamente amada.




Sentimentos à um amigo pela perda abrupta de suas avós.

Lembrança de imaginação

Está correndo pelo meu cérebro, transbordando a massa cinzenta e respirando com vida própria.  Tudo que imaginei ser bom ainda se mostra terno, mas hostil se considerado alvo.


Às vezes tenho saudades de minhas lembranças imaginárias. Momentos meus que nunca existiram, mas me fizeram sentir tão vivo que se tornaram parte de minha memória real. Me lembrando bons momentos ou boas vidas. Com cenários únicos, cheiros inexistentes, pessoas de formas e feições variadas e tão agradáveis ou não a mim que me recordo delas ainda que com outras faces, mas a mesma essência. 


Pensamento oco, sem utilidade e efeito. Ah se eu pudesse sair daqui com uma clara visão desse mundo escuro. Um dia sem nexo. Uma noite sem trunfo.  




What's gone will never come back
But it exists when you think of it
What is anything anyway
But a series of things running through your brain.



                                                             (One more of me - John Frusciante)







28 de jun. de 2011

Mirror World

Tudo ao meu redor reflete o que se opõe a mim.
Tento exprimir algo que desconheço, me convidando para um lugar onde jamais iria. Nem metafísico, nem extracorpóreo, apenas desconhecido. E por que dar nome ao desconhecido? Simplesmente não o chame, mas também não o tema. Respeite-o. Ilumine-o. E lhe pergunte o seu nome.

Uma religião, uma filosofia. Siga a todas e a nenhuma. Siga o seu reflexo, descubra o que há do outro lado do espelho. Onde todo direito é esquerdo e todo esquerdo é direito. Todo o certo pode ser errado e todo o errado pode ser certo. Mire-se.

E reflita.

Onde só em sonho enxergo a realidade, enquanto a realidade me parece um sonho.

16 de jun. de 2011

Enxergue-se

E se o verde fosse vermelho e o vermelho fosse verde?

E se só o daltônico enxergasse a cor real, enquanto o restante é que realmente seria daltônico?

O seu azul se chama vermelho e o seu vermelho se chama azul.

''If the the 6 was 9''
''If  all the hippies cut off all their hair''
''I don't care. I don't care.''
''Dig, cos I got my own world to live through''
"And I ain't gonna copy you.''




(Jimi Hendrix) - If The 6 was 9







13 de jun. de 2011

30 de mar. de 2011

A CoffeeBeer

Segunda-feira. Uma padaria. Uma cerveja?

7:30 da manhã. Na padaria, com a cara amassada de um recém acordado. Tudo ao redor se torna apenas fotografias breves quando se acaba de cair da cama. Mas uma fotografia não saiu da minha cabeça.

Ao pagar pelo pão (cujo até eu teria feito melhor), observei um camarada conversando com o dono da padaria.  Em plena segunda-feira (7:30), entornava uma lata de cerveja. Talvez ele tenha acabado de sair de algum tipo de promessa; ou ainda, havia passado por exames e ficara privado de consumir álcool por um longo período; pensei comigo. Porém, o fato não vem ao caso, mas sim, a ação. Quem, em plena consciência, ou sanidade, tomaria uma cerveja em uma segunda-feira às 7 e 30 da manhã? As pessoas saem para trabalhar, geralmente, ou compram pão com a cara amassada.

O indivíduo não estava mal vestido. Claro que poderia ser um bêbado. E se fosse aposto que ninguém tomaria o fato como absurdo. O impressionante é que a figura estava bem trajada, como se fosse ao trabalho, e antes passou na padaria para tomar seu café da manhã bem reforçado: cereais (fermentados), cevada e lúpulo. Pensando ainda em sua imunidade, conferiu à sua substância uma dose de álcool para a esterilização corpórea.

Aquilo me deixou pasmo e ainda com cara amassada. Voltei para casa e comi meu pão com manteiga, li o jornal e estudei um pouco. Arquivei essa cena em meu cérebro e precisava lexicografar (organizar dados, verbalizando) de alguma forma. E então em meio a alguns monossacarídeos e outros pepitídeos, me afundei na biologia e esqueci da vida.          

28 de mar. de 2011

LASCA - A

Longe, caminha o rumo de ambos. Arrancando partes de fragmentos do tempo. Some o desespero da tentativa, trazendo o conforto sereno. Sangria de uma tortura do tempo. Calma da velhice tranquila. Ainda sou de tempos antigos - Ainda sou mais noite que dia.

Algo perdi há tempos, algo que não sinto mais. Não se chama, não se senti, só se vive. Tenho vivido de um modo diferente. Não sei se bom ou ruim, mas mudo, tenso. Em momentos cronometrados pela ansiedade. Um gole de pura ânsia com gotas de esperança.

Tempo

O que aconteceu há anos, parece ter acontecido ontem. Assim como o que ocorreu ontem, parece ter acontecido há muitos anos.

O tempo passa sem que percebêssemos. De segunda à sexta em um dia. Ponho minha cabeça no travesseiro às 22h da noite e em 5 minutos o despertador toca. São 8h da manhã. Mas enquanto durmo por instantes, vejo passar, a horas de distância, o melhor do tempo. Em outros tempos, teria ignorado. Mas os ponteiros apontam a direção. Momento exato que mistura passado-presente-futuro. Apontam para o ilimitado sonho. Hora partilhado por todos, hora apenas devaneio. Mas sempre nú, expondo a ferida, que se cauteriza com o sonho.